Proteína do leite pode estar presente também em sabonetes, giz, balão de festa. Busca por produtos sem leite já é um grande desafio no mercado.
Você já ouviu falar em alergia a leite? O Fantástico tem recebido vídeos de mães de várias partes do Brasil, pedindo para o Fantástico fazer uma reportagem sobre o assunto. Elas estão preocupadas com a saúde dos filhos pequenos. Balão de festa, giz escolar. A Mariana, mãe do Mateus, de 5 anos, nunca imaginou que ali tinha proteína do leite. “Ele estava brincando no pátio da escola, com giz com a turma inteira, e aí naquele momento que ele deixou o giz, ele coçou o nariz e logo depois ele foi correr no pátio. Ele ficou inchado, com dificuldade de respiração, tossindo, e aí teve uma reação muito séria”, relembra Mariana.
Foi assim que ela descobriu que a alergia do Mateus era mais grave do que pensava. “Eu já sabia que ele tinha alergia a leite quando ele teve reação ao giz. Só que eu não imaginava que no giz tinha proteína do leite na composição”, afirma Mariana.
O giz tem caseína, uma proteína encontrada no leite de vaca. “Eu fui no médico e ele me explicou que, a partir daquele momento, a gente precisaria ter uma adrenalina onde ele fosse”, diz Mariana.
“Uma reação alérgica grave, do tipo anafilático, não tem outra alternativa. A única garantia de vida é o uso da adrenalina. Aplica sobre a coxa, ouve um clique, conta até 10, já aplicou a medicação e esse paciente está fora de risco. Essa caneta pode salvar a vida de uma criança”, avisa a alergista Ariana Young.
A caneta não é regulamentada no Brasil. Os pais que precisam tem que importar. E sai caro. “O mais barato custa R$ 600”, diz Ariana Young. A Anvisa diz que só não regulamentou esses produtos porque nenhum laboratório pediu.
No Brasil, 350 mil crianças têm alergia à proteína do leite de vaca. “Desses 350 mil, em torno de 70 mil já tiveram ou terão alguma reação do tipo anafilática, com choque anafilático – que representa risco de morte”, afirma Ariana Young, alergista.
“Alergia à proteína do leite de vaca é surge normalmente no primeiro ano de vida, enquanto ele é bebê ainda”, explica Ariana Young.
A Karina descobriu cedo. O Lucca tinha 8 meses quando teve as primeiras reações. “Já reagiu a lencinho umedecido, a sabonete, à medicação”, ela lembra.
E desde a hora que o Lucca acorda, a mãe já fica em estado de alerta. No café da manhã, a irmã, Pietra, não tem alergia e come normalmente derivados do leite. A Karina separa tudo com etiquetas.
“Tudo que é dele está etiquetado, na dúvida, não tem etiqueta, não tem o nome dele, não usa. O pratinho é separado, canequinha separada, o copo é separado, até o jogo americano. A louça do Lucca é lavada com a esponja separada”, ensina Karina.
No banheiro, tudo separado também. “Eu evito ao máximo produtos que tenham leite na higiene dele, mas alguns podem conter traços”, conta Karina.
Os traços de leite são uma “contaminação” do produto fabricado na mesma máquina que outros produtos com leite ou derivados. Não é todo alérgico que reage aos traços, mas o Lucca, sim.
Em casa, tudo sob controle. Mas e quando o Lucca é convidado para uma festa? A mãe entra em contato com quem estiver organizando a festa e prepara o “kit-festa” do Lucca. “A gente está preparando uma esfiha, massa toda caseira, não tem leite, não tem manteiga”, explica Karina.
Para as mães de filhos alérgicos, achar ingredientes é uma batalha. A busca por produtos sem leite já é um grande desafio no mercado. A situação fica ainda pior quando essas informações não são colocadas corretamente nos rótulos.
Como a rotulagem não é padronizada no Brasil, os fabricantes colocam os ingredientes do jeito que bem entendem e muitas vezes em inglês. Sabonete pode ter leite e caldo de carne também.
Atenção: a lactose é o açúcar natural do leite, não a proteína. “Uma pessoa que ela é intolerante à lactose, ela não consegue digerir o açúcar presente no leite. Não é o caso do Lucca, e das demais crianças que têm alergia à proteína ao leite da vaca. Elas não conseguem digerir a proteína”, explica Karina.
Com toda essa dificuldade, um grupo de mães criou a campanha “Põe no rótulo”. “Na grande maioria você não encontra leite. Você encontra outros nomes, proteína do leite, soro do leite, caseinato. O ideal é que tivesse mesmo em negrito: contém leite”, afirma Clarissa Oliveira, coordenador do Põe no Rótulo. A campanha pegou e fez com que a Anvisa abrisse uma consulta pública sobre a rotulagem de ingredientes que causam alergia. Daí pode sair um novo modelo para os rótulos.
“Lactoalbumina é leite, caseína é leite, caseinato é leite. Seria muito mais fácil eles colocarem: contém leite”, destaca Karina. Com rótulo ou sem rótulo, a Karina sempre dá um jeito para garantir que leite nenhum impeça o Lucca de brincar.
Fonte: Fantástico.